Conto 01: A Última Batalha (Gabriel Pedro; O Livreiro)

Capítulo 1 –
Kullat estava recarregando sua pistola quando ouviu algo que não queria ouvir, uivos, mais uivos, ele estava nos confins do mundo, num túnel coberto por inúmeros metros de terra, quando havia ouvido aqueles tantos uivos, não havia visto o alvo, dera apenas um tiro, seguiu a frente com cuidado, tentando não fazer muito barulho, lembrou de seu Mestre Dominus ensinando-o que quando o território da batalha não é seu, você não deve fazer barulho, Kullat pensou que foi uma pena, que Dominus nunca tenha batalhado em túneis, uma lição viria a calhar agora.
Uivos, e mais uivos, Kullat correu, puxando outra pistola de seu coldre, mais um lobo caia, agora podia vê-los, um, dois, uma matilha o cercava. O primeiro que avançou, foi o primeiro a cair, com um tiro no pé. Os lobos recuaram, mas não havia mais chance para eles, Kullat havia entrado em seu estado paranormal, atirava em todos, as balas acabaram, atirou as pistolas longe, agora iria usar sua própria magia, raios verdes iluminavam o túnel, estava cansado, viu uma luz azul e desmaiou, deu tudo de si, a magia o havia consumido. Era tarde demais.

Capítulo 2 –
— Kullat acorde, Kullat – disse um homem que Kullat não conseguia reconhecer por causa da tontura.
— Sou eu, Thagir – disse Thagir, enquanto Kullat levantava-se.
— Thagir, o que esta fazendo aqui? Eu lhe mandei tomar conta da entrada – gritou Kullat
— Eu estou salvando sua vida, e se quiser permanecer com ela, é melhor parar de gritar, e quanto a nossa retaguarda Íbis está lá, protegendo-a.
— Obrigado por ter vindo me salvar – disse Kullat, só agora percebendo que em suas calças, haviam inúmeros cortes, encharcados de sangue, provavelmente causados pelos lobos, ou o que quer que aquelas criaturas fossem.
— Vamos prosseguir quanto mais rápido irmos, mais rápido saímos – disse Thagir.
Kullat viu Thagir pegando uma mochila que só agora percebera e começar a caminhada, e assim seguiram, com Thagir sempre á frente.
— Kullat, o que será aquilo lá na frente, parece ter uma cor azulada.
— Não parece ser nada bom.
— Não duvido disso.
Com alguns passos a mais, perceberam que aquilo que falavam era água, uma benção, ou maldição, o que poderia ter embaixo dela, visto que o único caminho disponível era atravessá-la. Thagir se abaixou, e pegou um pouco de água com as mãos e levou até o nariz.
— O cheiro da água é horrível, com certeza há algo morto aí, há muito tempo.
— Além do mais, não consigo ver meu reflexo.
— Acampe-mos até amanhã – disse Kullat.
Kullat abriu a mochila, tirou tudo o que havia dentro dela, quando percebeu o silêncio, e um leve agitar da água, como se pequenas ondas começassem a se formar. Virou-se para trás, e viu Thagir, viu Thagir e mais uma dezena de insetos, insetos que agarravam Thagir como se fosse o tesouro mais precioso do mundo.
Kullat não teve dúvida, sacou sua espada que até agora estava oculta no capuz de sua veste. Partiu para o ataque como se fosse sua última chance, e de resto só viu sangue, não sabia se era ou não dele, mas só sabia que tinha que salvar seu único amigo. Não poderia deixar alguém que veio ajudá-lo morrer, agora era uma questão de honra.

Capítulo 3 –
Sangue, a espada que antes era prateada, agora estava vermelha, banhada de sangue, Kullat estava com diversos arranhões pelo corpo, e não conseguia abrir um olho, Thagir estava um pouco melhor, mas manco de uma perna, com um corte profundo nela, dificilmente voltaria a andar como andava antes, o corte foi provavelmente feito por aquele inseto, aquele demônio verde. Já estavam do outro lado da margem do rio, e continuavam andando, andando, como se agarrassem a última oportunidade que a vida lhes dera para salvar sua amada, ambos sabiam que nutriam um sentimento a mais, por uma Senhora de Castelo, pela única Senhora de Castelo, Laryssa.
E numa subida conseguiram ver ela, assim como Thagir e Kullat, ensangüentada, caída e presa numa jaula, com diversos lobos a lhe rodear, provavelmente ainda não havia a atacado, por um encantamento que ela tinha, a sedução, a sedução só feita pelas mais belas das moças, que encantava todas as criaturas boas ou não. Mas a sedução é algo como uma pena caindo, demora, mas cai, demora, mas acaba.
Dentre muitos bardos, que após o acontecido, ouviram a história, poucos acharam uma palavra certa, para descrever aquilo, e a palavra foi possuídos. Enfim, possuídos pelo sentimento de proteção, largaram coldres, armas e mochilas. Nada mais importava, o importante era que Laryssa vivia e o resto era conseqüência. Partiram como loucos para cima dos lobos que já haviam sobrepujado seu caminho, uma vez.
Porém, deveriam ter olhado para trás, e visto que algo estava os seguindo desde algum tempo atrás.

Capítulo 4 –
Aquilo já não era mais sangue, aquilo era uma guerra, guerra entre magia e dentes, magia e mordidas, Kullat estava encurralado, Thagir estava conseguindo soltar Laryssa, quando ouviu o grito de Kullat, não pensou duas vezes, não olhou uma única vez, virou atirando e acertou três lobos, só faltavam oito. Porém, quando o primeiro passo foi dado por Thagir, o resto da caminhada era só de Kullat, Kullat soltou imensas bolas flamejantes verdes, que acertavam os lobos, como se fossem teleguiadas. Havia acabado.
Soltaram Laryssa, e ela lhes apontou a saída, não que não tivessem conseguido vê-la, é que quando a emoção os dominou, dominou com tal força que parecia que eram feitos para guerra, máquinas de matar.
E saíram um de cada lado de Laryssa, um segurando cada mão de Laryssa, sua dama, sua sedutora.
Durante dois dias caminharam seguindo o túnel por fora, quando viram algo que não desejavam, e não teriam pensado em nem seus piores pensamentos enquanto estavam no túnel.
Íbis, que estava protegendo a entrada do túnel, estava morto, com um grande furo lhe trespassando o coração e outros ferimentos, entre poças de sangue, estava o corpo dele. E quem seja que tivesse matado Íbis também estava atrás deles. Uma nova aventura começava no fundo de seus corações. Ela se chamava vingança. Olharam para trás e viram aquela criatura maligna, perigosa, e gigantesca, o ódio e o medo começavam a brotar no coração deles. A sorte estava lançada, e não estava a favor deles.

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