Conto 01 – A Ordem do Eclipse (por All’Lara)

Sternia, Ano de 3235 da Ordem dos Senhores de Castelo

Ariel estava sozinha, quando eles vieram, disseram que seria para pacifica sua terra já abrasada de tantas lutas sem fim. Seus pais participavam do movimento antimonárquico de Sternia, seu planeta natal.
Sternia, era um planeta do quadrante 2, sua magia altamente desenvolvida, permitia que o planeta vivesse de forma fechada. Não recebia turistas, e os senhores de castelo não eram bem vindos lá, junto com as suas regras. Era um lugar próspero mas, viva nas mãos de uma família que há muito já tinha perdido o dom de governar com sabedoria. As pessoas viviam no maior desespero.
O rei conseguia tudo o que queria e não se importava em castigar aqueles que não tinham o dinheiro para pagar os impostos. Sternia foi tomada pelo medo. Algumas pessoas cansadas de viver sob aquele sofrimento se juntaram e começaram a travar batalhas sem fim para a libertação de seu povo. O caos fora instalado mas, o rei tinha um contato da ordem dos senhores de castelo.
Alegando que extremistas queriam tomar Sternia para governar com crueldade, o rei pediu ajuda dos Senhores de Castelo, que sem entender a situação verdadeira, aniquilaram àqueles que tentavam um governo com mais democracia, livre da escravidão e do medo imposto pelo rei. Muita gente inocente morreu, depois que os senhores de castelo eliminaram os antimonárquicos o rei os agradeceu e continuou com o seu reinado cruel depois que eles foram embora mas, com a batalha, muitas crianças se perderam os pais e passaram a morar na rua, aumentando a gravidade da situação do planeta.
Ariel, foi uma das crianças que ficou na rua depois da guerra. Tinha cinco anos quando passou a viver na rua, roubando e se escondendo para sobreviver. Quando fez sete, descobriu um poder descomunal, podia fazer coisas estranhas acontecerem. Fora presa numa jaula de ferro por roubar um pão, mas magicamente a jaula se mudou para gelo, facilitando sua escapada.
Sua magia era tão caótica quanto a sociedade de Sternia, manipulando essa energia do caos ela foi crescendo, sempre afastando as pessoas de perto de si, por terem medo do que ela podia fazer com eles caso perdesse a paciência. Na fase adulta, ela se tornou uma eximia maga caçadora de recompensas, mas nada a fazia esquecer sua raiva pela ordem dos senhores de castelo. Afinal, se não fossem eles, ela teria crescido com seus pais, que sem dúvida a teriam ajudado a entender e controlar seu poder de manipular a energia do caos. Ela não tinha o controle total dos seus poderes, um surto de fúria poderia fazê-la destruir um planeta inteiro, sem querer. Mas os senhores de castelos iam pagar, e como iam…

Damia, Ano de 3236 da Ordem dos Senhores de Castelo

Ela havia chegado tarde demais, mesmo Kayle com a suas asas bastante conhecidas por serem velozes, havia chegado tarde demais. Há cerca de três luas, Ela, senhora de castelo conhecida por resolver problemas sem deixar mortos ou feridos, fora chamada para capturar um serial killer em Damia, planeta do quadrante 1 pouco desenvolvido em magia e tecnologia.
Aquele planeta era pouco conhecido, nunca acontecia nada nele e as pessoas viviam sem muito alvoroço. Até que os jornais começaram a publicar matérias de assassinatos brutais e misteriosos. Um assassino em série estava caçando donas de casa em Uneel, capital de Damia, e as matando a sangue frio. Sua marca era uma rosa negra que ele deixava na boca da vítima depois que as matava.
A polícia local não tinha pistas do assassino e os assassinatos continuavam. As autoridades sabiamente resolveram contatar a ordem dos senhores de castelo para resolver aquele caso, que mais parecia uma história saída de um livro de terror. A ordem designou para o caso Kayle, a anjo, por ser uma rastreadora nata.
Depois de chegarem em Damia, eles rapidamente levantaram pistas do assassino, que continuava a praticar seus crimes sem se importar se senhores de castelo, o estavam caçando. Ele era astucioso e sabia exatamente como se livrar daquelas pedras em seu sapato. Numa noite como qualquer outra, ele sequestrou uma mãe de família com seu filho, e os levou para a torre mais alta de Uneel. Ainda na mesma noite, ele sequestrou com mais facilidade ainda a filha do governador, que tinha uns ares de rebelde e insistia em sair de casa se nenhum tipo de segurança.
Era uma decisão difícil, mas Kayle precisava escolher quem salvaria primeiro: A dona de casa e seu filho, ou a filha do governador. Sabendo que se a filha não fosse salva, o governador encerraria a diplomacia que já havia levado anos para ser feita entre Damia e os senhores de castelo, Kayle foi salvar primeiro ela. Seu julgamento havia sido errado, o assassino não estava lá. Depois de contatar a polícia local, Kayle voou com toda a sua força e velocidade para o lugar que a outras vítimas estavam, mas chegara tarde demais.
O assassino havia matado a mãe, enquanto o filho observava toda a cena. Kayle pegou o patife, mas o estrago já havia sido feito, a mulher estava lá no chão, sem vida, com a típica rosa negra na boca, e o menino estava abraçado com o cadáver da mãe sem soltar uma lágrima ou dizer qualquer palavra.
—Levante-se meu bem, já não podemos mais ajuda-la. Falou Kayle com a voz mais doce que conseguia fazer — Vamos voltar para o seu papai, que está esperando por você.
—Por que você não veio nos salvar antes? Perguntou o menino, deixando Kayle estática. — Ele disse que você não viria nos salvar primeiro e por isso a mamãe está morta. Ele disse que a culpa era sua. Eu não quero ficar perto de você, se você tivesse vindo antes a mamãe estaria viva e nós iriamos para casa tentar esquecer essa história.
Aquelas palavras penetraram fundo no coração de Kayle, ela era responsável por aquele garoto estar sem a mãe. Teria que viver com isso para o resto de sua vida, não se perdoava por isso. Ela se esquecera do sexto dia: “Regras podem ser quebradas para salvar vidas”. Manter a diplomacia era uma coisa, que os senhores de castelo prezavam para manter a paz multiversal, e respeitando essa espécie de regra, perdeu uma vida, e teria que pagar por isso o resto da sua vida.
Era o fim para ela, entregou o filho para o pai e pediu baixa dos senhores de castelo. Não era mais digna de ser uma. O menino, que tinha por nome Zot, cresceu angustiado, culpando os senhores de castelo pela morte prematura de sua mãe. Mas chegaria o dia que ele os confrontaria por isso, só precisava ter paciência.

W’tcha, Ano 3239 da Ordem dos Senhores de Castelo

S’lem é capital de W’tcha, planeta do quadrante dois, mas conhecido como reino das bruxas. Toda pessoa nascida nesse planeta, tem o dom natural da magia. Os senhores de castelo mantem uma relação instável com esse povo, uma vez que suas magias podem ser perigosas se não seu uso e fim, não forem bem controlados. A ordem sabendo disso, sempre tentou uma diplomacia pacifica com as bruxas, mas sabendo que essa parceria poderia de alguma forma limitar seu poder, o conselho das bruxas nunca firmou nada.
Mesmo assim, elas preferiam ficar no seu planeta. As bruxas que se aventuravam pelos mares boreais em busca de aventuras, acabavam sendo tragadas por problemas de outras pessoas que acreditavam que sua magia era capaz de tudo. Por isso, as bruxas preferiam ficar no seu planeta ou sair por aí sem revelar que eram bruxas na verdade.
Certa vez, um grupo de piratas do planeta Baltarm invadiram S’lem. As bruxas acharam que aquela seria uma batalha fácil. Mas aqueles piratas tinham um artefato que os impediam de serem afetados por magia, dado por Volgo, um feiticeiro perverso do multiverso. Na verdade ele queria que aqueles piratas distraíssem as bruxas para pegar um certo grimório ancestral que elas possuíam. O plano deu certo. Os piratas capturaram várias bruxas, enquanto Volgo roubou o grimório que continha vários feitiços poderosos.
Após o fim do ataque, as bruxas deram conta do que tinha sido roubado e sabiam que aquela magia era proibida e imprevisível caso caísse em mãos erradas. Desesperadas elas tentaram localizar o grimório, mas em vão. Volgo era um mago talentoso e sabia muito bem se tornar indetectável. Irritadas e apreensivas com toda a situação. O conselho resolveu criar uma magia que restaurasse o grimório e suas amigas agora escravas pelo multiverso. Depois de uma pesquisa intensa, as bruxas encontraram uma magia capaz de voltar no tempo.
Os senhores de castelo descobriram que as bruxas tinham criado uma forma de viajar no tempo. Sendo sábios eles sabiam que o tempo não pode ser mudado tendo em vista que as consequências de uma simples mudança na linha temporal, poderia ser imensa, inimaginável. Então eles enviaram Tallu, o pistoleiro arcano, para neutralizar esse feitiço custe o que custasse.
Tallu viajou para S’lem e se informou que as bruxas fariam o feitiço na lua cheia alinhada com a lua de gelo, que seria naquela mesma noite. Ao anoitecer, as bruxas do conselho se reuniram na floresta e começaram a fazer os encantamentos. Tallu observou que as treze bruxas estavam em perfeita sintonia, mas era como se todas elas estivessem transferindo seu poder para a bruxa mais velha, que certamente também era a mais poderosa.
Tallu sabia que se elas terminassem o encantamento, tudo estaria perdido então, sem pestanejar, ele desferiu uma bala na bruxa mais velha. Esta bala não servia para matar, ela era na verdade um conectivo mágico, que permitiu que Tallu roubasse a magia de todas as bruxas do conselho. Sem magia, elas o amaldiçoaram com palavras levianas. Elas sabiam que eram as únicas que poderiam executar aquele feitiço, e o alinhamento da lua cheia com a lua de gelo só acontecia a cada 500 anos.
Depois de absorver a magia de todas elas Tallu as ensinou uma regra que estava no livro dos dias. Décimo primeiro dia: “A sabedoria é mais importante e poderosa que qualquer magia”. As bruxas não ligaram para aquilo e baniram Tallu de seu planeta. As bruxas que estavam em ascensão de poder se uniram e tornaram o planeta invisível à qualquer magia ou tecnologia existente. W’tcha sumiu do mapa, mas as bruxas nunca mais se esqueceram do que aconteceu com elas. Elas preferiram deixar que o destino fizesse todos pagarem pelo mal que haviam feito à elas.
Mas Zelena, uma bruxa jovem não pensava assim. Ela jurou que recuperaria o grimório roubado, e faria os Senhores de Castelo pagarem por ter roubado a magia de suas anciãs, aquela era uma questão de honra. Ela só precisava ascender seus poderes, e encontrar pessoas que entendessem o lado dela e que concordassem em se juntar nessa cruzada que parecia impossível. Então, ela saiu de seu planeta em busca de vingança.

Gelen, extremo norte de Agas’B, Ano 3259 da Ordem dos Senhores de Castelo

Agas’B estava abalada com a queda de Yaa, a mãe de todas as fadas. O povo nunca tinha ficado tão apreensivo como agora, com exceção talvez dos eventos que acontecera há cerca de quatro anos. Todos estavam com medo de tudo ser dominado pela escuridão. Larys era um bom rei, mas Yaa era quem dava a esperança de tempos melhores. Era como se ela fosse quem, sozinha, controlava as trevas para que elas não se espalhassem causando dor e destruição.
A taverna de Uram, costumava ser mais cheia no tempo que o povo estava despreocupado. Agora, toda noite era triste e a taverna ficava quase vazia, salva por pouquíssimas almas que iam beber para esquecer seu próprio problemas. Naquela noite pretendia fechar a taverna mais cedo do que o comum para assistir o eclipse vermelho junto com a sua família. Aquele era um evento raro em Agas’B, mas se as pessoas estivessem normais, as ruas de Gelen estariam cheias de gente, curiosas e impacientes esperando para ver aquele eclipse tão especial e lindo.
Um casal conversava numa mesa, quando foram interceptados por uma terceira pessoa encapuzada que se juntou à eles. Uram, foi até a mesa para anotar o pedido e avisar que excepcionalmente naquela noite, a taverna fecharia suas portas mais cedo em virtude do eclipse. Serviu as três doses de cok pedidas e ficou esperando os clientes julgarem o momento ideal para irem embora.
—Finalmente cheguei a esse momento que eu esperei por anos. Finalmente vamos conseguir o que tanto cogitamos, e começará hoje. Falou a figura encapuzada.
—Eu já cuidei do eclipse, afinal essas coisas são fáceis para mim, de toda forma estou feliz por isso servir para aumentar ainda mais os meus poderes. Disse a mulher que estava sentada ao lado do homem.
—E eu mal posso esperar para ter dons como vocês sabem, de onde eu venho não tem magia, mas eu realmente preciso dela para ficar mais forte. Finalizou o homem terminando o seu cok. —Vamos indo, temos trabalho a fazer.
Os três saíram da taverna de Uram, e se dirigiram a floresta de pinheiros congelados de Gelen. Andaram cerca de vinte minutos até pararem numa clareira que estava preparada para o que iam fazer. Círculos mágicos estavam desenhados por todo chão coberto de neve, as árvores também contavam com símbolos para ajudar a fazer o encantamento. Ao pararem ao centro do círculo maior, ambos tiraram suas capas.
Ariel, com sua magia do caos apressou o ritmo do eclipse vermelho, enquanto Zelena começou a murmurar alguns encantamentos e Zod, ficou sob alerta, para que não fossem atrapalhados ou impedidos durante o encantamento. Os círculos se incendiaram ao tempo que a penumbra do eclipse se igualou com o círculo maior.
—Venham todos para cá. Falou Zelena em um tom enérgico, Ariel e Zod se juntaram a ela e em seguida a sombra do eclipse se alinhou completamente ao círculo. Uma luz avermelhada, envolveu o corpo deles fazendo-os levitarem por alguns momentos, derrubando-os no chão logo após. O eclipse se foi e as chamas cessaram, os três se levantaram com expressões satisfatórias e alegres.
Ariel materializou uma adaga com os seus poderes e fez um pequeno corte na sua mão direita, passando-a para Zelena e Zod, que repetiram sua ação. Juntos foram ao centro do círculo maior e juntaram as mãos cortadas, misturando seus sangues, que escorreu e caiu, sujando a alvura da neve.
—Hoje, eu expandi meus poderes do caos, Zelena ascendeu como bruxa e Zod recebeu a dádiva que é a magia. Mas isso não é tudo, hoje, sob este sangue que escorre sob as nossas mãos caindo na neve. Juraremos juntos que aconteça o que acontecer, levaremos isso até o final. Falou Ariel emanando poder com a sua voz.
—Juraremos juntos que aconteça o que acontecer, levaremos isso até o final! Repetiu Zod.
—Juraremos juntos que aconteça o que acontecer, levaremos isso até o final. Finalizou Zelena. — Sem dúvidas há outros por aí que sentem o mesmo que nós, e com os nossos poderes, vamos encontra-los.
—Hoje nasce a Ordem Eclipse. Destruição ao Senhores de Castelo. Nós alcançaremos a paz absoluta! Repetiram juntos três vezes. A Ordem do Eclipse nasceu naquela noite sombria, jurando pôr fim aos Senhores de Castelo e alcançar a paz absoluta que eles tentavam sem meios de alcança-la.

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